Então uma mulher que segurava um bebé contra o peito disse: «Fala-nos dos filhos.»
E ele disse:
Os vossos filhos não são os vossos filhos.
São os filhos e as filhas da saudade que a vida tem de si mesma.
Eles vêm através de vós, mas não a partir vós,
E apesar de estarem convosco, eles não vos pertencem.
Podeis dar-lhes o vosso amor, mas não os vossos pensamentos.
Pois eles têm os seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar os seus corpos, mas não as suas almas,
Pois as suas almas habitam na casa do amanhã, que não podeis visitar, nem mesmo em sonhos.
Podeis esforçar-vos para ser como eles, mas não procureis torná-los iguais a vós.
Pois a vida não anda para trás, nem se demora com o dia de ontem.
Vós sois os arcos dos quais os vossos filhos são lançados, quais flechas vivas, para diante.
O arqueiro vê o alvo no sentido do infinito, e Ele dobra-vos com a Sua força, para que a Sua flecha voe veloz e para lá do longe.
Deixai que a mão do arqueiro vos dobre como se desenhasse um sorriso;
Pois assim como Ele ama a flecha que voa e vai, também ama o arco que é firme e fica.
Khalil Gibran, in ‘O Grande Livro do Amor (tradução de José Luís Nunes Martins)’